segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Qual o propósito da doença?

Está aberta a discussão. O novo romance de ficção de Julie Zeh, autora alemã de 34 anos, trata de um tema polêmico. A busca humana pela perfeição física, numa
realidade asséptica e sem qualquer direito próprio sobre o corpo. A saúde santificada.

Em 2050 a humanidade vive uma ditadura higienista da qual desapareceram praticamente todas as formas de constipação e de câncer. Um sofisticado sistema de vigilância instalado pelo Estado cuida para que todos os cidadãos tenham uma alimentação saudável, pratiquem uma atividade física e evitem todas as formas de contaminação, por exemplo, dando beijos inúteis aos seus amigos ou familiares como forma de os cumprimentar. A reprodução é autorizada apenas entre parceiros selecionados, e garantida através de técnicas clínicas que limitam os riscos imunológicos. Os infratores podem ser alvo de condenações severas: um simples cigarro pode valer dois anos de prisão!

Ao longo da história, que não fica só na narrativa deste controle estatal, a autora que evoca as visões de Aldous Huxley, Karin Boye, Ray Bradbury ou George Orwell, confronta-nos com a ambivalência filosófica dessa sociedade quase ideal, desprovida de qualquer sentido metafísico, já que a vida é toda ela organizada em torno do bem estar físico, sem manifestar qualquer consideração pela alma. Mia Holl, uma das protagonistas, é uma bióloga na casa dos trinta que nunca cuidou do seu corpo, que não ama, é este o seu crime. No final de um julgamento – espetáculo no decorrer do qual é aclamada como mártir e, ao mesmo tempo, acusada de terrorismo, Mia é condenada não à fogueira, como as bruxas da Idade Média, mas a ser congelada por tempo indeterminado, e declara: “A Idade Média não é uma época histórica e sim o verdadeiro nome da natureza humana.”.

Corpus Delicti
Julie Zeh

* Ainda sem tradução para português.




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