Dias atrás, me deparei com um post de mulheres compartilhando o quanto gastam para manter a própria beleza. Cílios postiços, unhas de gel, retoques no salão, maquiagem, procedimentos estéticos... A lista era longa e, por um instante, me senti aliviada. “Nossa, eu sou muito mais simples”, pensei. “Não gasto com nada disso.”
Mas bastou abrir o armário do banheiro para que a realidade me encarasse. Ali estavam meus filtros solares, séruns milagrosos, hidratantes que prometem desde a fonte da juventude até a restauração da autoestima. Uma nécessaire de maquiagem “básica” que, para minha surpresa, conta com mais de 20 itens. Produtos para o cabelo que garantem um brilho de estrela de cinema, além de uma coleção de apetrechos de depilação digna de um salão de beleza.
E então caiu a ficha: embora eu me considere uma pessoa descomplicada, também sou refém dessa engrenagem. Só que, ao invés de unhas de gel e cílios volumosos, meu consumo está disfarçado em frascos minimalistas e promessas sutis de autocuidado. Mas no fim das contas, não estamos todas dançando conforme a música?
O mercado da beleza nos vende a ideia de que há sempre algo a ser melhorado – uma ruga a suavizar, um cabelo a disciplinar, uma textura a corrigir. Não basta ser, é preciso parecer. E assim, entre um frasco e outro, vamos acumulando mais do que produtos; acumulamos exigências, gastos e uma eterna sensação de que ainda não fizemos o suficiente.
Nos anos 90, minha rotina era absurdamente simples. Neutrox
nos cabelos, gelatina incolor para definir os cachos e o mesmo sabonete servia
para o rosto e o corpo. Maquiagem? Só de longe. E tudo bem. Sobrevivi sem base,
corretivo e iluminador até os 40 anos – e, sinceramente, minha vida não foi
pior por isso.
Olhando para tudo isso, me pergunto: até que ponto escolhemos esses rituais por prazer, e até que ponto estamos apenas seguindo um roteiro que nos foi imposto? O que realmente nos faz sentir bonitas? O que nos faz bem de verdade?
Talvez a resposta não esteja no que colocamos sobre a pele, mas na forma como nos vemos além dela. E talvez valha a pena desviar, ainda que um pouco, desse caminho já tão pavimentado pela indústria. Com um olhar mais crítico, um sorriso no rosto e, sim, um bom filtro solar na mão.
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